Norimar foi diagnosticada há 18 anos e preside associação que ajuda pessoas com a doençaFoto: Júlio Cordeiro / Agencia RBS |
A enfermidade tem incidência em aproximadamente 3% dos brasileiros com mais de 65 anos e apresenta consequências motoras e não motoras. O primeiro tipo, explica o médico Carlos Rieder, está ligado às áreas cerebrais envolvidas principalmente com a dopamina, neurotransmissor que ajuda na realização de movimentos.
— A diminuição da dopamina leva ao aparecimento dos sintomas. Os clássicos são lentidão dos movimentos, rigidez dos músculos e tremor. Mas as pessoas não vão apresentar, necessariamente, tremor ou rigidez. Boa parte não tem e nunca terá — afirma Rieder, que integra o Serviço de Neurologia e Neurocirurgia do Hospital Moinhos de Vento e é professor da Universidade Federal de Ciências da Saúde de Porto Alegre (UFCSPA).
O médico detalha que a doença normalmente afeta primeiro um lado do corpo e, depois, passa a ser bilateral. O tremor do Parkinson se difere de outros tipos — o principal deles é o chamado tremor essencial.
— Ao contrário do Parkinson, o tremor essencial tem relação com a história familiar, tende a melhorar com a ingestão de bebida alcoólica, ocorre de maneira quase igual nas duas mãos e se dá quando a pessoa vai fazer alguma ação — compara a neurologista Sheila Trentin, do Serviço de Neurologia do Hospital São Lucas da PUCRS e coordenadora dos ambulatórios de distúrbio do movimento da instituição.
O paciente com Parkinson, salienta Sheila, está propenso a outras complicações, como o distúrbio comportamental do sono REM (em que a pessoa pode gritar e espernear enquanto dorme), insônia, depressão, ansiedade, constipação, além de alterações de olfato e memória.
— A doença se manifesta de maneiras diferentes. Então, é importante a pessoa não se comparar a outras. É como se houvesse vários tipos de Parkinson. Em alguns, por exemplo, o tremor é o principal sintoma, enquanto em outros é a perda de equilíbrio — explica a médica.
Os primeiros sintomas costumam aparecer após os 65 anos. Entretanto, há uma parcela de aproximadamente 10% dos casos diagnosticada antes dos 45 anos. Essas pessoas terão a doença por mais tempo, mas possivelmente com um avanço mais lento.
Causas ainda são desconhecidas
O que faz proteínas anômalas se acumularem no cérebro, dando origem ao Parkinson, ainda não foi esclarecido pela ciência. Sabe-se, no entanto, que apenas uma pequena parcela tem relação com questões genéticas.
— As causas são desconhecidas na maioria dos casos. Podem ser aspectos ambientais, como a exposição a agrotóxicos e metais pesados.
A prevalência da doença vem aumentando com a industrialização, mas o principal fator do crescimento é que as pessoas estão vivendo mais — afirma o neurologista Carlos Rieder.
Como não há cura, trabalha-se o controle dos sintomas: existem medicamentos que repõem a dopamina e amenizam as consequências motoras. Pesquisadores procuram desenvolver drogas que impeçam o acúmulo das proteínas, atingindo a origem da doença.
— O tratamento não é feito exclusivamente com remédios. Uma parte muito importante é a atividade física regular, que melhora o equilíbrio. Outra é a atividade mental, em que o paciente deve se dedicar a aprender coisas novas, já que há o risco um pouco aumentado de alterações de memória — frisa a neurologista Sheila Trentin.
A especialista ainda acrescenta que, no cenário ideal, o tratamento deve ser feito de forma multidisciplinar, com profissionais de fisioterapia, fonoaudiologia, psicologia e nutrição, além da medicina:
— Quanto mais multidisciplinar for a equipe, melhor o paciente será tratado.
Atividades em grupo e apoio da família
Dos 68 anos de vida de Norimar Castanheiro, 18 são de convívio com o Parkinson. A investigação sobre a origem das fortes dores que sentia nas costas a levou ao diagnóstico, do qual ela duvidou quando ouviu do médico. Precisou ir a outros quatro profissionais para ser convencida.
— De lá para cá, comecei a ficar travada. Não tremo, mas tudo é mais devagar, sinto a postura entortando. Às vezes, não consigo fazer os movimentos que quero e, ao mesmo tempo, tenho movimentos involuntários — relata.
Norimar viu hábitos simples se tornarem difíceis. Ainda que more sozinha, não se arrisca mais a realizar atividades como caminhar no centro de Porto Alegre desacompanhada. Mesmo para deslocamentos curtos, utiliza a bengala.
— A gente cai muito — justifica.
A melhora da qualidade de vida ela encontrou na Associação Parkinson do Rio Grande do Sul (Apars), entidade da qual é presidente. O grupo se reúne para dividir questões relativas à doença e praticar atividades físicas.
Voluntária da Apars, a psicóloga especialista em neuropsicologia Neusa Chardosim avalia que ações como as desenvolvidas pela associação são importantes para enfrentar o preconceito, já que muitas vezes o paciente é visto como incapaz de fazer atividades corriqueiras.
— O primeiro impacto após a descoberta da doença é o pânico. Depois, vem uma sensação de raiva, de negação. Então, a gente trabalha esse processo do diagnóstico até chegar à fase em que a pessoa começa a aceitar. É um trabalho de formiguinha — conta.
Angela Garcia, também diagnosticada com Parkinson há 18 anos, ressalta que o apoio da família é fundamental.
— Ou a família te apoia, ou te derruba — afirma Angela, que foi presidente da Apars entre 2003 e 2014. Fonte: Zero Hora.
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